quarta-feira, 1 de maio de 2013

Vai pra caxirola



          Há cerca de 500 anos, para arredondar um contestado número, os Portugueses chegavam no litoral brasileiro, até então – segundo os livros de história – desconhecido. Após dividir a ‘‘posse’’ da nova terra com os espanhóis, por um certo período, o método de domínio de Portugal se mostrou mais efetivo do que os seus concorrentes ibéricos, motivo pelo qual, hoje, escrevo em português. Presentes eram trazidos aos nativos como forma de conquistar sua confiança. Espelhos e outras mercadorias de baixo valor na Europa iam aproximando cada vez mais os ‘‘índios’’ dos ‘‘homens brancos’’. O resto é história.

          E nesta história, muito já se viu. Batalhas, revoltas e revoluções contrastam com muita festa. É verdade que o povo brasileiro gosta dessas celebrações, porém estas se propagam para áreas além da diversão popular, como a insustentável e complicada relação entre muitos políticos e dinheiro público. Porém, a maior festa de nossa história ainda está por vir, e a ambiguidade que palavra traz nunca caiu tão bem.

           O modo de conquistar proposto pelos portugueses perdura até hoje, e talvez seja por causa dele que seremos palco de um evento mundial, no qual temos regras para seguir, especificações para cumprir à risca, estruturas para construir e bilhões para gastar. Tudo isso saindo de nosso bolso. Contudo, o anfitrião não somos nós. Faremos o que foi citado acima, e muito mais, para o deleite dos convidados de uma organização privada, que nada faz para a organização do evento a não ser vender contratos de propaganda, faturando rios de dinheiro em cima do humilde povo brasileiro, que parece não ter ideia de como a festa realmente será.

            A instituição ainda se sente no direito de impor alterações em patrimônios nacionais, ao desfigurar um certo estádio do Rio de Janeiro, herança da última vez que a tal festa esteve aqui. A lista de infâmias continua, permitindo a qualquer consumidor regular de notícias a percepção de que a festa será bem diferente do proposto por uma famosa cervejaria, que ousa chamar os torcedores que estão com os olhos bem abertos de pessimistas.

          O que a Fifa talvez tenha esquecido é que, ao longo desses mais de 500 anos de história, criamos identidade. Uma cultura nacional, amplamente miscigenada, nasceu, e já se foi o tempo em que estrangeiros a impunham. Tolos. Criaram a caxirola, uma espécie de instrumento musical para atazanar os ouvidos de quem fosse aos estádios da copa, forçando uma espécie de vuvuzela, tradicional corneta sul-africana – a qual tentaram proibir na festa anterior – em nossa cultura. Faltou perguntar se queríamos. Na estreia do artefato, na Bahia, onde o Acarajé foi proibido durante a realização do evento, o povo mostrou sua força, negando a ridícula imposição. As caxirolas entregues aos torcedores foram reprovadas, lançadas e arremessadas ao gramado, como se o povo se unisse, mandando a Fifa pra... Caxirola.
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Yuri Coghe Carlos Silva

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